O cortisol, principal representante do grupo dos
glicocorticoides, exerce uma série de papéis essenciais para o bom
funcionamento do corpo humano. Sendo um hormônio de natureza hidrofóbica, consegue
passar pela membrana plasmática das células-alvo, indo atuar no interior delas.
Lá, ele se associa a proteínas receptoras específicas e pode agir
basicamente de duas maneiras: entrando no núcleo e estimulando a transcrição de
regiões determinadas do DNA; ou inativando proteínas que participam da
transcrição de certas regiões do DNA, inibindo, assim, a síntese de algumas
substâncias.
As esferas de ação do cortisol são muito amplas; afinal, em
cada tecido, as proteínas que se ligam ao cortisol são distintas, provocando
diferentes efeitos. Vamos falar de algumas das principais funções desse
hormônio no organismo:
1) Mobilização de
reservas energéticas
O cortisol apresenta ação oposta à da insulina e similar à
do glucagon (com a importante diferença de que este age em receptores da
membrana celular, enquanto o cortisol interfere na transcrição, dentro do
núcleo celular). Ele afeta três tecidos relacionados com o suprimento de
energia para o corpo:
- Fígado: a gliconeogênese é estimulada, graças ao aumento
na quantidade de enzimas da via e na atividade dessas enzimas, e à maior
disponibilidade de substratos, vindos de outros tecidos, como os citados a
seguir. Tudo isso é mediado pelo cortisol.
- Músculos: neles, o cortisol induz a degradação de
proteínas, além de frear a síntese proteica. Dessa forma, há uma maior
disponibilização de aminoácidos para a gliconeogênese (ocorrendo no fígado).
Além disso, o hormônio provoca a diminuição no consumo de glicose pelos
músculos, a fim de combater a hipoglicemia (como o glucagon), e economizar glicose para o uso do cérebro (que aumenta sua demanda em condições de stress); para isso, também
gera uma queda na sensibilidade dos miócitos à insulina.
- Tecido Adiposo: nele, o cortisol induz a lipólise,
aumentando a disponibilidade tanto de glicerol (para a gliconeogênese) quanto
de ácidos graxos livres (para oxidação e obtenção de energia). Também há a
queda no consumo de glicose e na sensibilidade dos adipócitos à insulina, a fim
de preservar os níveis glicêmicos.
Veja a imagem abaixo, que esquematiza todos esses efeitos:
Processos
inflamatórios muito prolongados acarretam certos prejuízos ao microambiente
envolvido. Um exemplo notável é o fato de que as hidrolases lisossomais,
liberadas durante o fenômeno da fagocitose, acabam afetando células próximas
que estavam intactas. Outro exemplo marcante refere-se à vasodilatação no local inflamado, a qual
acaba provocando um extravasamento de líquido, o que engrossa o sangue e
prejudica seu fluxo normal.
Por isso, é necessário haver um
controle da intensidade da inflamação. Outra função do cortisol é justamente
realizar esse controle. Nas regiões de inflamação, é observado que a concentração
de cortisol livre é maior do que no resto do corpo.
O cortisol atua de várias maneiras,
com o objetivo de reprimir o sistema imune:
- Inibe a ação de “mensageiros da
inflamação”, como a IL-1, uma interleucina produzida pelos macrófagos;
- Diminui a atividade dos
linfócitos B, diminuindo a produção de anticorpos;
- Provoca uma queda na quantidade
de linfócitos e eosinófilos circulantes, seja levando-os à apoptose, seja induzindo
um “sequestro” dessas células (por órgãos como o baço). Isso, inclusive,
ocasiona um decréscimo no volume dos linfonodos e do timo.
- Estabiliza a membrana dos
lisossomos, dificultando a liberação de enzimas que atuariam na defesa do
organismo contra corpos estranhos;
- Dificulta a vasodilatação na
região afetada, a qual permitiria um extravasamento de células de defesa e
líquido (o causador dos inchaços característicos de inflamações).
Devido a todas essas ações, que
causam a supressão do sistema imune, os glicocorticoides são usados como
fármacos para combater doenças autoimunes (como lúpus, vitiligo, hepatite
autoimune...), que são causadas pelo combate do sistema de defesa ao próprio
organismo.
3) Ação conjunta com
a adrenalina
Em situações de stress, o hipotálamo é estimulado a liberar
CRH, que induz a produção de ACTH por parte da hipófise. O ACTH (ver post “O
ACTH na regulação da produção de corticoides”), então, estimula a síntese de
cortisol. Este aumenta a sensibilidade das células-alvo à adrenalina (que
também passa a concentrações maiores em condições de stress). O próprio
cortisol também age (mas prioritariamente a longo prazo) em mecanismos que
preparam o corpo para lidar com tais situações. Veja as figuras:
4) Maturação dos
pulmões de recém-nascidos
Uma ação mais específica, mas não menos
importante, do cortisol no organismo refere-se à transição entre o ambiente
intrauterino e o meio externo, quando o bebê nasce. Este deixa de fazer as
trocas gasosas (de O2 e CO2) por meio da placenta e passa
a utilizar os próprios pulmões para tal. Nesse processo, é necessário que haja
mudanças estratégicas nos pulmões do feto que está para nascer, como a diminuição da
espessura dos alvéolos (reduzindo, assim, as barreiras para a difusão dos
gases), além da produção de surfactantes (produzidos por pneumócitos, são fosfolipídeos
associados a proteínas, e tornam menor a tensão superficial nos alvéolos,
facilitando também a difusão). Nessas
duas mudanças, o cortisol exerce papel fundamental. Em deficiências na ação do cortisol com relação à maturação pulmonar, a criança acaba apresentando graves problemas respiratórios.
Referências:
GOODMAN, H. Maurice.
Basic Medical Endocrinology. Third Edition. Editora AP.
http://www.fag.edu.br/professores/francine/medicina/2%20per%EDodo/adrenal.pdf
http://corticoides.wordpress.com/2012/05/24/cortisol-acao-imunossupressora/
http://corticoides.wordpress.com/2012/05/10/cortisol-o-principal-tipo-de-glicocorticoide-3/
http://www.fag.edu.br/professores/francine/medicina/2%20per%EDodo/adrenal.pdf
http://corticoides.wordpress.com/2012/05/24/cortisol-acao-imunossupressora/
http://corticoides.wordpress.com/2012/05/10/cortisol-o-principal-tipo-de-glicocorticoide-3/
eu gostaria de saber o que causa em nosso corpo quando o cortisol está em nível muito baixo.
ResponderExcluirEle envia uma mensagem ao hipotálamo e a hipófise para que as mesmas cessem a produção de ACTH e CRH e para que as glândulas suprarrenais não produzam mais cortisol.
ExcluirEle envia uma mensagem ao hipotálamo e a hipófise para que as mesmas cessem a produção de ACTH e CRH e para que as glândulas suprarrenais não produzam mais cortisol.
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