quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Efeitos do cortisol no organismo


O cortisol, principal representante do grupo dos glicocorticoides, exerce uma série de papéis essenciais para o bom funcionamento do corpo humano. Sendo um hormônio de natureza hidrofóbica, consegue passar pela membrana plasmática das células-alvo, indo atuar no interior delas. Lá, ele se associa a proteínas receptoras específicas e pode agir basicamente de duas maneiras: entrando no núcleo e estimulando a transcrição de regiões determinadas do DNA; ou inativando proteínas que participam da transcrição de certas regiões do DNA, inibindo, assim, a síntese de algumas substâncias.

As esferas de ação do cortisol são muito amplas; afinal, em cada tecido, as proteínas que se ligam ao cortisol são distintas, provocando diferentes efeitos. Vamos falar de algumas das principais funções desse hormônio no organismo:

1) Mobilização de reservas energéticas

O cortisol apresenta ação oposta à da insulina e similar à do glucagon (com a importante diferença de que este age em receptores da membrana celular, enquanto o cortisol interfere na transcrição, dentro do núcleo celular). Ele afeta três tecidos relacionados com o suprimento de energia para o corpo:

- Fígado: a gliconeogênese é estimulada, graças ao aumento na quantidade de enzimas da via e na atividade dessas enzimas, e à maior disponibilidade de substratos, vindos de outros tecidos, como os citados a seguir. Tudo isso é mediado pelo cortisol.

- Músculos: neles, o cortisol induz a degradação de proteínas, além de frear a síntese proteica. Dessa forma, há uma maior disponibilização de aminoácidos para a gliconeogênese (ocorrendo no fígado). Além disso, o hormônio provoca a diminuição no consumo de glicose pelos músculos, a fim de combater a hipoglicemia (como o glucagon), e economizar glicose para o uso do cérebro (que aumenta sua demanda em condições de stress); para isso, também gera uma queda na sensibilidade dos miócitos à insulina.

- Tecido Adiposo: nele, o cortisol induz a lipólise, aumentando a disponibilidade tanto de glicerol (para a gliconeogênese) quanto de ácidos graxos livres (para oxidação e obtenção de energia). Também há a queda no consumo de glicose e na sensibilidade dos adipócitos à insulina, a fim de preservar os níveis glicêmicos.

Veja a imagem abaixo, que esquematiza todos esses efeitos:

 2) Ação imunossupressora e anti-inflamatória

Processos inflamatórios muito prolongados acarretam certos prejuízos ao microambiente envolvido. Um exemplo notável é o fato de que as hidrolases lisossomais, liberadas durante o fenômeno da fagocitose, acabam afetando células próximas que estavam intactas. Outro exemplo marcante refere-se  à vasodilatação no local inflamado, a qual acaba provocando um extravasamento de líquido, o que engrossa o sangue e prejudica seu fluxo normal.

Por isso, é necessário haver um controle da intensidade da inflamação. Outra função do cortisol é justamente realizar esse controle. Nas regiões de inflamação, é observado que a concentração de cortisol livre é maior do que no resto do corpo.

O cortisol atua de várias maneiras, com o objetivo de reprimir o sistema imune:

- Inibe a ação de “mensageiros da inflamação”, como a IL-1, uma interleucina produzida pelos macrófagos;
- Diminui a atividade dos linfócitos B, diminuindo a produção de anticorpos;
- Provoca uma queda na quantidade de linfócitos e eosinófilos circulantes, seja levando-os à apoptose, seja induzindo um “sequestro” dessas células (por órgãos como o baço). Isso, inclusive, ocasiona um decréscimo no volume dos linfonodos e do timo.
- Estabiliza a membrana dos lisossomos, dificultando a liberação de enzimas que atuariam na defesa do organismo contra corpos estranhos;
- Dificulta a vasodilatação na região afetada, a qual permitiria um extravasamento de células de defesa e líquido (o causador dos inchaços característicos de inflamações).

Devido a todas essas ações, que causam a supressão do sistema imune, os glicocorticoides são usados como fármacos para combater doenças autoimunes (como lúpus, vitiligo, hepatite autoimune...), que são causadas pelo combate do sistema de defesa ao próprio organismo.

3) Ação conjunta com a adrenalina

Em situações de stress, o hipotálamo é estimulado a liberar CRH, que induz a produção de ACTH por parte da hipófise. O ACTH (ver post “O ACTH na regulação da produção de corticoides”), então, estimula a síntese de cortisol. Este aumenta a sensibilidade das células-alvo à adrenalina (que também passa a concentrações maiores em condições de stress). O próprio cortisol também age (mas prioritariamente a longo prazo) em mecanismos que preparam o corpo para lidar com tais situações. Veja as figuras:


 Percebe-se que a adrenalina produz respostas corporais imediatas, como o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, dilatação dos bronquíolos... O cortisol, por sua vez, e até mesmo pelo fato de agir em esfera transcricional (o que demanda mais tempo), produz respostas a longo prazo: aumento da disponibilidade energética (vinda de proteínas e gordura), aumento da glicemia (por exemplo, para abastecer a demanda cerebral)...

4) Maturação dos pulmões de recém-nascidos

Uma ação mais específica, mas não menos importante, do cortisol no organismo refere-se à transição entre o ambiente intrauterino e o meio externo, quando o bebê nasce. Este deixa de fazer as trocas gasosas (de O2 e CO2) por meio da placenta e passa a utilizar os próprios pulmões para tal. Nesse processo, é necessário que haja mudanças estratégicas nos pulmões do feto que está para nascer, como a diminuição da espessura dos alvéolos (reduzindo, assim, as barreiras para a difusão dos gases), além da produção de surfactantes (produzidos por pneumócitos, são fosfolipídeos associados a proteínas, e tornam menor a tensão superficial nos alvéolos, facilitando também a difusão).  Nessas duas mudanças, o cortisol exerce papel fundamental. Em deficiências na ação do cortisol com relação à maturação pulmonar, a criança acaba apresentando graves problemas respiratórios. 


Referências:


GOODMAN, H. Maurice. Basic Medical Endocrinology. Third Edition. Editora AP.
http://www.fag.edu.br/professores/francine/medicina/2%20per%EDodo/adrenal.pdf
http://corticoides.wordpress.com/2012/05/24/cortisol-acao-imunossupressora/
http://corticoides.wordpress.com/2012/05/10/cortisol-o-principal-tipo-de-glicocorticoide-3/


3 comentários:

  1. eu gostaria de saber o que causa em nosso corpo quando o cortisol está em nível muito baixo.

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    1. Ele envia uma mensagem ao hipotálamo e a hipófise para que as mesmas cessem a produção de ACTH e CRH e para que as glândulas suprarrenais não produzam mais cortisol.

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    2. Ele envia uma mensagem ao hipotálamo e a hipófise para que as mesmas cessem a produção de ACTH e CRH e para que as glândulas suprarrenais não produzam mais cortisol.

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