segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Respondendo às questões - Parte 2 e Hipotireoidismo



Olá caros leitores, hoje divulgaremos a resposta de mais um grupo de colégas que nos questionou a respeito de hormonios tireoidianos. Esta pergunta é muito interessante pois é muito ligada ao hipotireoidismo e portanto será também um post sobre doenças, neste caso abordando a deficiencia de hormonios tireoidianos (hipotireoidismo) e os seus efeitos mais severos, neste caso o coma mixidematoso.
Esta pergunta foi feita pelo grupo de Doenças Autoimunes - Aline Carvalho, José Ribamar, Rafael Ramos e Matheus Moreira.: "Explique detalhadamente o coma mixidematoso na doença de Hashimoto. Explique o tratamento também."

Resposta:                
O coma mixedematoso é uma doença incomum e associada a quadros de hipotireoidismo longos e não tratados. Este quadro prolongado de falta de hormônios tireoideanos, o que leva a disfunções metabólicas e cardíacas, e em muitos casos à morte. Estas alterações afetam a circulação sanguínea, em detrimento da manutenção da temperatura corpórea, os receptores beta e alfa adrenérgicos ficam reduzidos e levam posteriormente a um quadro de hipertensão diastólica causando diminuição do volume sanguíneo, afetando todos os sistemas do corpo.
                Os efeitos neurológicos são coma, alterações cognitivas, letargia e estupor, que estariam associados à falta de oxigenação cerebral, glicose, e hormônios tireoidianos – que tem muita importância no desenvolvimento e na função cerebral.  Os efeitos cardiovasculares são bradicardia, diminuição da contração cardíaca e queda das proteínas contráteis devido à falta de T3. Estes sinais acarretam em aumento da resistência vascular periférica (RVP) e Insuficiencia Cardíaca (ICC). Sendo assim, é possível identificar alterações pulmonares como diminuição do controle ventilatório e hipóxemia.
                Além do comprometimento destas funções pode haver o comprometimento renal associado à deficiência cardíaca, diminuindo assim a filtração glomerular, e portanto a recuperação de íons e outras substancias importantes para o funcionamento normal do corpo, levando o individuo à hiponatremia e quadros de contrações reduzidas. Por fim, há também quadros de alterações gastrointestinais, refletindo principalmente na motilidade do intestino, má absorção de nutrientes.
                Quanto ao tratamento é preconizado que este seja iniciado mesmo sem a confirmação laboratoria, caso haja Coma Mixedematoso, sendo assim, se houver alterações pulmonares estas deverão ser priorizadas, além da reposição hormonal , controle da temperatura corporal e da patologia associada. Além da reposição hormonal, que varia conforme o quadro do paciente,  e tratamento com esteroides também conforme o quadro do paciente.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Respondendo às questões - Parte 1

Olá caros leitores, alguns colegas fizeram-nos perguntas no Blog de Biobio Então responderemos a duas delas neste post.

A primeira foi feita pelo grupo de Low Carb -  Aislan Felipe, Asheley Francimar e Daniel Figueirêdo.: Qual o motivo da aplicação recorrente, em deficiências hormonais tireoidianas, da aplicação do hormônio T4 sintético, considerando que este é precursor do T3, em detrimento da administração de tiroxina diretamente, isto é, a necessidade do corpo de T3 é suprida por T4. Por quê?

Resposta:
Pois bem, tendo em vista que uma pessoa que não possui a glândula tireoide secretando nenhum de seus hormônios fica obvia a necessidade de repô-los, sendo assim, é comum pensar em administrar T3 e T4 na corrente sanguínea do individuo, já que este não produz hormônio por conta própria. No entanto o T4 se transforma quase que totalmente em T3 na corrente sanguínea e, portanto, a aplicação de T4 levará o paciente a ter os dois hormônios na corrente sanguínea, e prontos para atingir as células alvo. Quanto ao fato da administração de hormônio sintético, este é utilizado porque não há produção de hormônio natural no corpo do indivíduo, logo é necessária a produção farmacêutica de um composto que funcione da mesma maneira que o T4.
  
A segunda pergunta foi feita pelo grupo de Neurotransmissores - João Pedro, Marília Kakumoto e João Gabriel.: Em alguns países, o uso de corticoides é bem restrito e às vezes até mesmo proibido, sendo utilizados apenas em casos extremos da medicina. Se é um anti-inflamatório potente e poderia ser usado com mais frequência em casos clínicos, por que ele é restringido? Quis são os males e as vias bioquímicas envolvidas?

Resposta:
A resposta para essa pergunta está sobretudo no post "Uso de corticóides como medicamento", que fala das doenças cujo tratamento pode envolver o uso desses hormônios e os efeitos colaterais de seu uso. O post sobre os efeitos adversos do cortisol também ajuda a compreender esses motivos.
Como foi dito lá, os feitos do uso excessivo de corticóides são muito diversos, e envolvem glaucoma, aumento de glicemia(com possível conseqüência de diabetes tipo 2), ganho de peso, maior tendência a osteoporose, entre outros. Além disso, o uso de corticóides por tempo prolongado pode gerar uma “acomodação” do organismo, que passaria a produzir menos corticóides e se tornar dependende do medicamento para que os efeitos causados pelo baixo nível desse hormônio da adrenal não aconteçam(para ver esses possíveis efeitos, vejam os posts sobre baixa produção de aldosterona e doença de Addison).
A partir disso, pode-se perceber que, embora o tratamento utilizando corticóides seja útil em vários casos, seus efeitos colaterais causados pelo mau uso podem ser muito sérios, o que leva algumas pessoas a terem receio quanto ao uso dessa forma de medicamento.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Uso de corticóides como medicamento


Mais uma vez, olá caríssimos leitores! Já vimos diversas anomalias que envolvem os corticóides, e agora é o momento de fazer a seguinte pergunta: Podem os corticóides ser utilizados como medicamento? A resposta é SIM! E esse post tem como objetivo falar um pouco sobre o uso farmacológico de corticóides. É importante lembrar que não se deve utilizar o medicamento por livre e espontânea vontade, mas somente sob indicação médica, e jamais como auto medicação, até porque o uso de medicamentos pode afetar o controle do corpo sobre a produção de corticóides e gerar um desequilíbrio no organismo que, evidentemente, não é desejável.
Os corticóides são utilizados como medicamentos para pacientes que possuem lupus, asma, artrite reumatóide(doença auto-imune caracterizada pela inflamação de articulações), algumas alergias(devido a seus efeitos antiinflamatórios) e ainda outras condições patológicas. Naturalmente, os corticóides podem ser utilizados para doenças como a doença de Addison, na qual a glândula adrenal não produz corticóides suficientes para suprir a demanda do organismo.
Existem diversas formas de ingestão de corticóides, a saber:
  1. Oral: Por meio de comprimidos e xaropes. Em geral usados para casos de lupus, artrite reumatóide;
  2. Injetável: Em geral utilizado para casos de inflamação nos tendões(tendinites).
  3. Inalável: Uso de sprays ou pós secos inaláveis. Em geral utilizados para casos de asma e alergias nasais;
  4. Uso na pele: Cremes e pomadas. Em geral utilizados para problemas relacionados com a pele;
  5. Uso oftálmico: Pelos olhos, por meio de colírios.
Como todo medicamento, os corticóides possuem seus efeitos colaterais, o que reforça ainda mais a importância de só serem utilizados sob prescrição médica. Entre eles, podemos citar o aumento da pressão dos olhos(glaucoma), aumento da pressão sanguínea, mudanças no humor(tristeza, irritabilidade e insônia), ganho de peso com maior depósito de gordura no abdome, aumento de glicemia(podendo piorar ou gerar diabetes), tendência a osteoporose, pele fina que sofre danos com maior facilidade. Aqueles que já leram outras postagens que tratam de doenças relacionadas aos corticóides provavelmente perceberam que alguns efeitos colaterais causados pelo uso de corticóides também são sintomas de doenças relacionadas, e é precisamente por isso que a orientação médica é fundamental.
Ok, já entendi. O que é possível fazer para evitar esses indesejados efeitos colaterais? Em primeiro lugar, é importante lembrar novamente que o uso desses medicamentos deve ser feito somente sob prescrição médica. Outras formas de controlar esses efeitos incluem a diminuição das doses ou utilização delas de modo intermitente(um dia sim, outro não, por exemplo), a mudança da forma de utilização dos corticóides(deixar de usar o meio oral para usar o meio inalável, por exemplo) e mudanças em hábitos de vida(alimentares e físicos).
O modo mais adequado para se utilizar os corticóides como medicamento envolve a prescrição médica(“que cara chato, só sabe repetir isso!”), utilização por curto período(para não gerar desequilíbrio no organismo). Lembrando que as doses recomendadas pelo médico não devem ser alteradas(a não ser que o médico peça, naturalmente).
Não há segredo: Os corticóides de fato podem ser medicamentos importantíssimos, se usados de maneira adequada. Espero que essa postagem tenha sido útil aos leitores.
                                                                                 
Bibliografia:
http://hypescience.com/wp-content/uploads/2011/11/remedios1.jpg

Cortisol e seus efeitos adversos


Repetindo o já tradicional: Olá caríssimos leitores! Já lemos sobre a ação do cortisol no corpo humano nesse blog... Mas quais são os efeitos no caso da manutenção de um elevado nível de cortisol para o organismo? Não é bom que os níveis do cortisol sejam constantemente altos, e trataremos de algumas conseqüências que ocorrerão no organismo caso os níveis de cortisol estejam continuamente elevados.
O cortisol é conhecido como o hormônio do estresse
O cortisol é conhecido por ser o hormônio do estresse, e de fato ele é secretado em maior quantidade nessa situação, e é fundamental que isso ocorra por causa de sua ação no organismo humano, que também já foi explicada neste blog. Contudo, caso o estresse se torne parte do cotidiano e, por isso, não haja a redução dos níveis de cortisol, há conseqüências prejudiciais à saúde.
Uma dessas conseqüências é o aumento da pressão arterial devido ao aumento da glicemia estimulado por esse corticóide. O aumento da glicemia gera, por conseqüência, a migração de água para o sangue, aumentando o volume sanguíneo e, consequentemente, a pressão arterial.
Além disso, há diminuição da resistência imune do organismo, uma vez que o cortisol tem ação imunosupressora, fazendo com que as doenças se manifestem mais claramente em organismos nos quais esse hormônio está em quantidades elevadas.
Não obstante, o cortisol também gera a quebra de proteínas musculares para que a gliconeogênese ocorra com mais eficiência. A conseqüência lógica da quebra de proteínas musculares é a diminuição da massa muscular.
Ao ler a postagem do Torres sobre os efeitos do cortisol(já linkado acima), alguns leitores podem ter pensado que o cortisol auxilia no emagrecimento, já que ele induz a lipólise. Contudo, é justamente o contrário. Embora a lipólise esteja estimulada, o organismo interpreta a situação de estresse como uma situação de necessidade de armazenamento de energia, e, portanto, qualquer oportunidade que apareça na qual seja possível armazenar gordura(fonte energética) será aproveitada. Como nós costumamos continuar nos alimentando regularmente durante os períodos de estresse, a grande diferença é que o organismo dará grande prioridade ao armazenamento do alimento em forma de gordura por causa da ação do hormônio. Assim sendo, embora o cortisol estimule a lipólise, ele também estimulará, após a alimentação, o armazenamento de gordura.
Outro efeito observado é similar ao efeito da diabetes tipo 2. Essa doença é causada pela falta de receptores de glicose devido a destruição deles ao longo do tempo, o que prejudica a entrada de glicose na célula. Da mesma forma, o cortisol estimula o aumento de glicose liberada na corrente sanguínea, e a glicemia constantemente elevada pode gerar a destruição dos receptores de glicose e, consequentemente, o efeito se torna parecido com o efeito causado pela diabetes tipo 2.
Ou seja, o excesso de cortisol tem os seguintes efeitos:
1.      Aumento da pressão arterial
2.      Supressão do sistema imune
3.      Diminuição de massa muscular
4.      Aumento de reserva de lipídios
5.      Efeito similar ao da diabetes tipo 2

Bibliografia:
http://corposuplemento.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/12/corpo-e-suplemento-cortisol2.jpg

Incidentaloma Adrenal


Mais uma vez, olá caríssimos leitores! Nessa postagem falaremos da incidentaloma adrenal, que é um tumor com diâmetro maior de 1 centímetro presente na glândula adrenal que, em geral, é descoberto por meio de algum exame de rotina e na ausência de sintomas que sugerem alguma doença nessa glândula.
A maioria desses tumores encontrados acabam sendo não-funcionantes(85%). Apenas 9,2% dos casos são tumores secretores de cortisol, 4,2% eram feocromocitomas e 1,6% eram aldosteronomas, segundo os dados do livro citado na bibliografia.
Depois de descoberto o tumor, é importante descobrir se ele é um secretor de hormônio ou não, e o teste de urina é utilizado para isso. Além disso, é importante descobrir se o tumor é benigno ou maligno para definir qual tratamento será utilizado. Para fazê-lo, imagens obtidas, por exemplo, por meio da tomografia são utilizadas.
Os tumores benignos têm como características gerais o tamanho menor que 4 centímetros, com margens redondas e lisas. Já os tumores malignos costumam ser maiores que 4 centímetros e suas margens são irregulares.
Na maioria dos casos, tumores com diâmetro maior que 4 centímetros são extraídos cirurgicamente, inclusive aqueles que não são secretores. Os tumores menores de 4 centímetros que secretam hormônios devem usualmente são retirados por meio de cirurgia.
No tratamento que não envolve a cirurgia, utiliza-se a farmacoterapia juntamente de uma mudança no estilo de vida do paciente para evitar complicações devido ao tumor.
            Os pacientes que possuem tumores não-funcionantes menores de 4 centímetros não retiram o tumor, mas devem ser seguidos com a tomografia computadorizada a cada 3 meses e um ano(alternados), e, não havendo alteração, há diminuição da freqüência de consultas.
            Se o tumor apresentar crescimento de mais de um centímetro(apenas 5% dos casos) durante esse período no qual estão sendo avaliados por meio da tomografia computadorizada o tumor deve ser removido cirurgicamente.
            A avaliação hormonal periódica também é recomendável aos pacientes com esse tumor, uma vez que em 4% dos casos outras anomalias hormonais podem ser desenvolvidas. Embora 4% pareça um número pequeno, variações hormonais podem gerar doenças gravíssimas e até levar à morte. Ou seja, realmente a grande maioria dos casos não apresenta outras variações hormonais, mas aqueles que apresentam podem ter complicações caso não sejam diagnosticados e tratados, o que justifica esse acompanhamento do paciente.
Bibliografia:
·        Endocrinologia, Ernest L. Mazzaferri. Editora Guanabara, terceira edição

Síndrome de Cushing


Olá mais uma vez, caros leitores! Trataremos hoje da Síndrome de Cushing, que diz respeito às consequências causadas pelo excesso de corticóides(hipercortisolismo).
A causa da Síndrome é diversificada, desde causas exógenas até endógenas dependentes ou independentes de ACTH. Os tumores hipofisários que secretam o ACTH são responsáveis por 5% a 10% de todos os casos da síndrome(nesse caso, dependente de ACTH), mas sua causa mais freqüente é uma hiperplasia bilateral das supra-renais(nesse segundo caso, independente de ACTH).
Suas manifestações clínicas mais comuns são hipertensão, obesidade central, diabetes melito, acne, osteoporose, lesões cutâneas, atrofia muscular generalizada com perda de gordura nas extremidades, face arredondada e até mesmo algumas manifestações psiquiátricas(depressão e problemas na função cognitiva). Além disso, é comum que os pacientes que possuem a Síndrome de Cushing tenham os membros esticados(longos e magros) como consequência do aumento da quebra das fibras musculares. As lesões cutâneas, citadas anteriormente, também ocorrem com mais freqüência devido ao uso excessivo de proteínas, o que fragiliza a pele. Esse efeito relacionado às proteínas ocorre porque os glicocorticóides são inibidores da síntese de proteínas e estimuladores da quebra de proteínas musculares e tecido linfóide.
Estrias(no abdome), obesidade central e face arredondada também podem ser observadas nessa imagem
O método de diagnóstico mais confiável para a Síndrome de Cushing é a medida de cortisol livre na urina de 24 horas, sendo o valor acima de três vezes da quantidade normal considerado como indicativo da doença. Outra forma é a avaliação da perda do ritmo circadiano do cortisol, e isso é feito por meio da observação de alto nível plasmático de cortisol entre 22 horas e meia noite, horários no qual esse nível deveria estar baixo.
Devido à diversidade de causas, depois de diagnosticada a doença é necessário fazer outros testes para designar a causa no paciente em específico. Para isso, pode-se utilizar a medida de ACTH plasmática(para definir se a síndrome é dependente ou independente de ACTH) ou o teste de supressão com alta taxa de dexametasona, e até mesmo teste com imagem radiológica para localizar possíveis tumores ou hiperplasia responsáveis pela alta taxa de corticóides livres.
Da mesma forma que o diagnóstico, a diversidade de causas faz com que os tratamentos sejam diversos. A cirurgia, no caso de Síndrome de Cushing causada por superprodução de ACTH hipofisário, pode ser utilizada, mas frequentemente os pacientes envolvidos na interferência cirúrgica necessitam de reposição de glicocorticóides por até um ano. A intervenção cirúrgica também é feita em casos em que a doença é causada por adenoma adrenal inclui a remoção cirúrgica dele. Nos casos de hiperplasia, a remoção cirúrgica de uma das glândulas pode ser feita.
O tratamento clínico pode ser utilizado no pré-operatório ou em pacientes nos quais a cirurgia é contra indicada, sendo os medicamentos utilizados bastante diversificados.

Bibliografia:
Endocrinologia, Ernest L. Mazzaferri. Editora Guanabara, terceira edição
Endocrinologia Baseada em Evidências, Pauline M. Camacho, Hossein Gharib, Glen W. Sizemore. Editora Artmed, segunda edição.
Basic Medical Endocrinology, H. Maurice Goodman. Editora AP, Third Edition.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Doença de Addison


Olá, amigos! Mais uma vez, temos uma doença a ser tratada neste blog. A Doença de Addison é rara, mas é fundamental que quando ela apareça seja identificada, já que ela pode ser tratada, mas é potencialmente fatal.
Entre suas causas mais comuns temos a destruição de tecido da glândula supra-renal por agentes patogênicos e a destruição auto-imune do córtex da mesma glândula. Como a supra-renal é responsável pela produção de cortisol e aldosterona, a conseqüência de sua destruição parcial pelos motivos citados resulta em uma diminuição na quantidade desses hormônios.
As reclamações relacionadas à doença incluem fadiga, astenia, perda de peso, anorexia, náuseas, vômitos, tonteiras e aumento da pigmentação de pele(sobretudo nas articulações digitais, cotovelo, sulcos palmares, linha da cintura), e a maioria desses sintomas são causados pela deficiência de cortisol, e a administração dele costuma amenizar os sintomas. O vitiligo é observado em 20% dos casos. A hipotensão também a aparece, sendo conseqüência principalmente da falta de mineralocorticóides.
Alguns sintomas da doença de Addison


O tratamento da doença envolve a reposição de glicocorticóides e mineralocorticóides, podendo ser utilizada a cortisona, prednisona e prednisolona, e a maior parte da medicação é administrada na parte da manhã(66% a 75%), sendo o restante administrado no início da tarde. Isso é feito para simular a variação do cortisol nos diversos períodos do dia, da mesma forma que ocorre em um organismo no qual a produção desse hormônio está regular. Em casos de estresse, a quantidade de medicamento administrada pode ser aumentada. Além disso, se os sintomas persistirem, normalmente a dose do medicamento é aumentada ao mínimo necessário para que os sintomas desapareçam, uma vez que o excesso desses hormônios também é prejudicial.
Da mesma forma, os mineralocorticóides serão administrados e sua quantidade pode variar de acordo com as circunstâncias(clima quente e atividade crescente, por exemplo). A pressão arterial é um dos fatores avaliados para que a reposição de mineralocorticóides seja reajustada, sendo a hipertensão motivo para diminuir a quantidade de medicamento e a hipotensão para aumentá-la.
Um dos aspectos fundamentais que envolvem o tratamento da doença de Addison é que o paciente conheça a ação dos corticóides e dos medicamentos sobre seu corpo para que possam reconhecer os sintomas de doses insuficientes para a reposição correta e, dessa forma, entrar em contato com o médico para que os reajustes necessários sejam feitos.
É possível perceber que a doença de Addison não é difícil de ser tratada, mas exige atenção e cuidado para que a pessoa que a possui não tenha muitos problemas por causa dela e tenha os medicamentos na dosagem certa. O conhecimento e a administração correta desses medicamentos é absolutamente fundamental para que não existam complicações graves de saúde devido a doença.
Por enquanto é só, até a próxima!

Bibliografia:
·        Endocrinologia, Ernest L. Mazzaferri. Editora Guanabara, terceira edição
·        http://patologando.blogspot.com.br/2009/09/doenca-de-addison.html

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A formação de T3 a partir de T4



Como visto em postagens anteriores foi evidenciado que o hormônio T3 é, em grande parte, produzido a partir de T4 na corrente sanguínea. Esta conversão é realizada a partir de uma série de reações catalisada por diferentes enzimas.
Desionidade tipo I:
Remove uma molécula de iodo, tanto do anel externo (fenólico), quanto do anel interno (tirosínico). Estes anéis são estruturalmente semelhantes e a posição dos íons de iodo são equivalentes, no entanto há grandes diferenças entre a retirada de iodo do anel externo e do anel interno. Quando retirado do anel externo, o T4 se transforma em 3′,3,5-triiodotironina (T3), na forma que encaixa no seu receptor hormonal. Mas quando há a retirada de iodo do anel interno a tiroxina (T4) acaba por ser convertida em 3’,5’,3-triiodotironina (rT3), um isômero do T3 chamado T3 reverso, e este não consegue se ligar a seu receptor e só é capaz se “desiodinisar” mais e mais.

            Desionidase tipo II:
Esta desionidase não está presente no fígado, mas é encontrada em muitos tecidos extra-hepáticos (cérebro e glândula pituitária), onde ocorre uma transformação independente de T4 em T3 para atender as necessidades locais destes tecidos independente da circulação sanguínea. mas apesar desta produção ser localizada estes tecidos extra-hepáticos são podem receber T3 do sangue também. Além disso esta enzima é regulada por outros hormônios, quando a concentração de T4 é baixa há uma expressão maior da desionidase II.
Esta é uma sequência das reaçoes de desiodinização, e as setas azul-escuras representam a saída do Iodo do anel externo (Fenólico) enquanto as azul-claras representam a saída de Iodo do anel interno (Tirosínico).
           
            Desionidase tipo III (degradação):
A desionidase tipo III apenas remove o iodo do anel tirosinico (interno) de T4, sendo assim, sua função é apenas degradativa e esta enzima, juntamente com a desionidase tipo I,  são as únicas a produzirem rT3.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Efeitos fisiológicos da atuação da glandula tireóide

Os hormônios tireoideanos afetam o crescimento do sistema esquelético e também do sistema nervoso central, além de afetar o metabolismo de carboidratos e lipídeos.
·         Sistema Esquelético
No sistema esquelético os hormônios tireoidianos têm seus efeitos mais impactantes, principalmente no crescimento, exceto na fase fetal. Estes hormônios atuam principalmente em fatores de crescimento como o IGF-I (do inglês: Insuline Growth Factor Type I), e estes fatores promovem a criação de osso onde existe cartilagem. E além disso os hormônios tireoideanos regulam o hormônio do crescimento na hipófise.
            Os efeitos da tireoide no sistema esquelético são basicamente no amadurecimento ósseo, ou seja, são basicamente na fusão dos ossos através da ossificação das cartilagens (região mais clara), conforme a imagem a seguir.


As deficiências dos hormônios tireóideanos podem causar retardo no crescimento, má formação dos ossos da face, e cretinismo quando relacionadas a hipotireoidismo.
·         Sistema Nervoso Central
Os hormônios tireoideanos têm papel fundamental no crescimento do Sistema Nervoso Central (SNC) e eles atuam no crescimento e desenvolvimento do corpo mesmo antes do crescimento da glândula tireoide. Mas como o feto consegue produzir hormônios tireoideanos sem a glândula tireoide desenvolvida? A resposta é bem simples. Eles não produzem! Na verdade, na vida fetal os bebês recebem T3 e T4 da mãe através da placenta. Por isso, em bebês cujas mães possuem hipotireoidismo é comum que haja deficiências no crescimento e desenvolvimento do SNC.
            No período perinatal (do 5o mês até a primeira semana de nascimento) É importantíssimo para o desenvolvimento, e a falta deles pode acarretar em deficit no desenvolvimento cerebral e cerebelar, além de atrasos na mielinização nervosa. Em crianças a falta de hormônios tireoidianos pode levar a efeitos catastróficos, como retardo mental irreversível. Ou seja, mesmo se houver reposição dos hormônios, não seria possível reverter os danos já causados ao SNC em desenvolvimento.
            Já em adultos o hipertireoidismo (grande produção e secreção de hormônios tireoideanos) leva a hiperexcitabilidade, irritação, insônia e respostas exageradas às situações diárias do convívio social. E quanto ao hipotireoidismo (baixa quantidade de hormônios tireoideanos) há sinais de sono, prejuízo na memória, falta de energia, fala lenta e capacidade sensorial diminuída.
            Para resumir todas estas informações a figura a seguir mostra um gráfico, e depois dela faremos uma breve análise a respoeito das informações que ela possui.


A figura acima mostra uma serie de curvas sobre idade mental, crescimento ósseo e altura em crianças que começaram a tratar o hipotireoidismo, alem de uma reta padrão que mostra o crescimento de uma criança normal.
Logo na primeira análise é possível perceber que todas as curvas estão sempre bem abaixo do esperado numa criança sem hipotireoidismo. Mas a que mais impressiona é a curva da idade mental, que como dita anteriormente, é um tpo de lesão irreversível. Nesta curva é possível identificar que a criança mesmo depois de três anos de tratamento não conseguiu progredir muito na idade mental, e que esta ficou parada numa faixa correspondente a 1 ano de idade. O mesmo vale para as curvas de altura e desenvolvimento ósseo, no entanto nestas duas curvas é possível perceber que após alguns anos de tratamento os resultados são bem mais favoráveis quando comparados à curva de idade mental.


Um pouco sobre o metabolismo dos hormônios tireoideanos

O T3 está bem mais livre  que o T4 no plasma sanguíneo, e isto se deve à grande atração – cerca de dez vezes maior – que o T4 tem pelas proteínas ligadoras de hormonios tireoideanos. Desta maneira é possível admitir que o período de permanência do T3 na corrente sanguínea é bem menor (cerca de um sexto). Além disso o tempo de ação do T3 em relação ao T4 é bem menor, conforme a figura abaixo.

      Além das considerações anteriores, pode-se inferir que o T4 é o principal produto de secreção da tireoide e o hormônios tireoideano em maior circulação na reserva plasmática. Mas além disso há um fato interessante sobre o T4, ele é um pró-hormônio que serve na produção de T3, o que foi observado em alguns estudos realizados em humanos, provando que também há formação de T3 extratireodal (fora da tireoide).
      O estudo baseou-se basicamente na aplicação de T4 puro em pacientes tireoidectomizados (que tiraram a glandula tireoide). E nestes pacientes foram encontradas taxas normais de T3 na circulação. E a partir destas informações, foi descoberto que cerca de 85% do T3 é formado pela deiodinização do T4, e que esta transformação consome 35% do T4 secretado por dia.

Artigo Científico


Olá, camaradas!

Em nossas pesquisas sobre os corticoides, encontramos um artigo científico bem interessante, e achamos relevante compartilhá-lo com vocês! É este aqui:


http://endo.endojournals.org/content/early/2010/04/21/en.2009-1476.full.pdf


Trata-se de um artigo recente, de 2010, e que aborda um assunto bem relacionado ao tema deste blog. Ele se refere a um experimento feito por pesquisadores do Prince Henry’s Institute of Medical Research, na Austrália, que acabou elucidando sobre a importância do mecanismo de "cortisone-cortisol shuttle" (já explicado neste blog, vide post "O cortisol na circulação sanguínea") para o bom funcionamento do organismo. 


Devido à grande semelhança estrutural entre cortisol e a aldosterona (na verdade, os mineralocorticoides em geral), o cortisol pode se ligar aos MRs (mineralocorticoid receptors) e induzir a resposta transcricional típica da aldosterona, ocasionando uma maior reabsorção de sódio e de água. Como a concentração de cortisol no sangue é muito maior que a de aldosterona, essa reabsorção seria bastante exagerada, gerando hipertensão e danos cardiovasculares no indivíduo.
Para evitar isso, o corpo dispõe da ação da enzima 11β-Hidroxiesteroide Desidrogenase tipo 2 (11β-HSD2), que promove a conversão do cortisol a cortisona (esta não se liga aos MR). Então, o cortisol fica "inativo", sendo ativado somente nas imediações de seus tecidos-alvo, por ação da 11β-Hidroxiesteroide Desidrogenase tipo 1 (11β-HSD1), que transforma a cortisona em cortisol.

Para encontrar evidências da importância desse mecanismo, os pesquisadores realizaram testes com ratos Mus musculus, injetando neles CBX (uma substância inibidora da 11β-HSD2), em conjunto com a adição de glicocorticoides. Esses animais tiveram, anteriormente, retiradas suas glândulas adrenais (a fim de melhorar a quantificação da ação dos glicocorticoides, sem interferência dos produzidos endogenamente). A hipótese a ser comprovada seria a de que, com a adição de CBX juntamente com os glicocorticoides, estes não seriam "inativados" pela 11β-HSD2 e ficariam disponíveis para se ligar aos MRs, desencadeando um processo de reabsorção de sódio e água. De fato, dados colhidos posteriormente mostraram claros danos cardiovasculares aos ratinhos, resultado do aumento da pressão arterial, entre outros fatores (como o aumento do stress oxidativo, por um mecanismo que envolve o NADPH celular).

Então, amigos, é perceptível a relevância do bom funcionamento da "cortisone-cortisol shuttle" para o equilíbrio do organismo, inclusive protegendo contra doenças vasculares. Para saber mais detalhes de como foi feito o experimento descrito, bem como alguns aspectos não tratados nesta "resenha", consultem o artigo na íntegra (basta clicar no link disponibilizado acima)!

Abraços!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Proteínas agregadoras dos hormonios tireoideanos possuem função de reserva hormonal no plasma sanguineo

Uma breve reflexão sobre a glândula tireoide, sua função, importância e todos os passos que ocorrem tanto nela quanto fora dela até que exista equilíbrio de produção, armazenamento, e ativação fisiológica de seus hormônios em todos os níveis do corpo traria espaço suficiente para capítulos de livros. Não é à toa que, dentro da ciências da saúde,  existam focos de pesquisa e trabalho apenas em hormônios. E dentre estas especificidades há um ponto muito importante a ser considerado a respeito do controle dos níveis de hormônios tireoidianos. A função de reserva hormonal extra-tireoideana.
Esta função só existe por conta da diferença de afinidade que T3 e T4 tem pelas proteínas carregadoras, e pelo fato de as proteínas, quando unidas ao hormônio, dificultarem a sua saída do endotélio capilar e impedirem a filtragem glomerular das proteínas ligadas aos hormônios, desta forma eles permanecem na circulação sanguínea. A ligação do T3 e principalmente do T4 às proteínas cria uma quantidade cerca de três vezes maior que a quantia de hormônio sintetizada e degradada durante um dia inteiro.
Este sistema de reserva é tão preciso que pode ser comparado a um sistema tampão que matem o pH (potencial hidrogenionico) estabilizado. Em termos numéricos pode-se dizer que o tanto aumentos agudos quanto quedas vertiginosas na secreção de hormônios não causam tantas alterações nos níveis de hormônio no sangue. Por exemplo:

1.      Elevação dos níveis de Tiroxina (T4) sem aumento da degradação por um dia.
A secreção dobrada de T4 acarretará em aumento dos níveis deste hormônio na corrente sanguínea. E depois de passados 1 dia com a secreção aumentada é de se esperar que a taxa deste no sangue seja bastante alta. Além disso, a degradação de hormônios continua normal, sendo assim, haverá mais secreção de hormônio e pouca quebra, o que levará a acumulo do mesmo. No entanto, são as proteínas que se ligam aos hormônios, impedindo sua eliminação, sendo assim, há apenas um aumento de 30% de hormônios no sangue, ao invés de um aumento de 100% de T4.

2.      Elevação dos níveis de T4 por uma hora.
Da mesma maneira que a situação anterior, os níveis de T4 tenderiam a aumentar bastante, por conta do aumento da secreção, no entanto há apenas um aumento de 12% na taxa de hormônio no sangue, o que deixa clara a capacidade de “contenção” do nível hormonal no plasma sanguíneo.

3.      Inibição da secreção de T4 por uma hora.
O mesmo processo de estabilização da quantidade de hormônios é válido quando não ocorre secreção. Na falta de T3 e T4 era de se esperar uma queda vertiginosa, pois é comum enxergarmos o equilíbrio de forma que a entrada e a saída de hormônios sejam sempre na mesma taxa, e por conta disto, haja equilíbrio no corpo. Na verdade esta ideia não é de um todo errada, pois apesar de as proteínas realizarem esta função estabilizadora sem novas adições de hormônio ao sistema haverão complicações, sinais e sintomas de falta hormonal. Mas quanto à regulação pelas proteínas, esta ocorre  devido ao fato de estas impedirem a saída dos hormônios pelo endotélio capilar, uma vez que estão ligadas a eles e não são tão pequenas a ponto de passar pelo vaso sanguíneo. Sendo assim, eventos agudos de supressão da secreção hormonal, conseguem ser contidos e seus efeitos no corpo humano não são evidentes, pois apenas os hormônios livres passam pelo capilar e estes representam apenas 1% de todo o hormônio circulante.